Partidos são veículos para atingir objetivos pessoais - Lopo do Nascimento

Partidos são veículos para atingir objetivos pessoais - Lopo do Nascimento
 
“O `outro´ partido era sempre visto como o Diabo e o nosso como Deus. Não só na visão do MPLA em relação aos outros, mas também os outros tinham a mesma visão sobre o MPLA”, conta, acrescentando que “eram as relações humanas de indivíduo para indivíduo que poderiam fazer alguma diferença”.
 
Lopo do Nascimento, antigo primeiro-ministro de Angola, lamenta, em entrevista à Agência Lusa, que hoje, quando se aproxima o 35.º aniversário da independência, os “interesses pessoais” se tenham misturado com os interesses do país na forma de fazer política.
 
Este histórico do MPLA, que foi o primeiro a ocupar o cargo de primeiro-ministro da Angola independente, entre 1975 e 1978, lamenta o avanço dos interesses pessoais na atuação dos políticos numa altura em que Angola comemora, na quinta-feira, 35 anos de independência.
 
“Por exemplo, o MPLA está no poder e, quando os partidos da oposição se batem pelo poder, para além da componente política, há a componente económica por detrás. É que hoje olha-se para os partidos como via para alcançar um status económico”, diz.
 
Cenário que contrasta com o que se passava há 35 anos e mesmo antes, durante a luta armada contra o regime colonial português, em que os partidos, recorda o hoje deputado do MPLA, tinham uma enorme carga ideológica, “própria da época”, era “o tempo da guerra fria”.
 
“O `outro´ partido era sempre visto como o Diabo e o nosso como Deus. Não só na visão do MPLA em relação aos outros, mas também os outros tinham a mesma visão sobre o MPLA”, conta, acrescentando que “eram as relações humanas de indivíduo para indivíduo que poderiam fazer alguma diferença”.
 
Lopo do Nascimento fala, na entrevista à Lusa, das relações pessoais no passado tumultuoso da guerra, apontando dois exemplos do campo do “inimigo”, Jeremias Chitunda, antigo vice-presidente da UNITA, morto na “guerra de Luanda”, em 1992, e Ngola Kabango, atual dirigente da FNLA.
 
Isto, porque, em tempo de aproximação, de negociações para pôr fim à guerra, se não houvesse a componente de relação humana que desse alguma confiança, conhecendo as pessoas, aceitando que se poderia acreditar, avançar-se-ia menos.
 
“Tenho a minha experiência pessoal, com Jeremias Chitunda, que conhecia há muito tempo e, à margem das disputas, por vezes tínhamos conversas no âmbito da nossa relação pessoal, que era muito boa, que permitia momentos em que discutíamos o que estava a acontecer, se os fins diferentes que iríamos ter por razões políticas valeriam a pena”, recorda.
 
Mesmo nas negociações que levaram ao Acordo Bicesse “isso foi importante”, atesta, e lembra que, “apesar de haver orientações determinadas, as relações pessoas existentes entre os dois, permitiram avanços” nas negociações.
 
Mas há um pormenor que Lopo do Nascimento vê com satisfação estar cada vez mais esbatido na sociedade angolana que é “o receio das pessoas (de partidos diferentes) serem vistas juntas e a falar”, porque noutros tempos “isso podia gerar “a ideia de que alguém se estava a passar para o outro lado”.
 
 
Angola/35 anos: Falta de quadros no país pode levar ao descontrolo da economia
 
 
Lopo do Nascimento é um dos históricos do MPLA e assume-se como pertencendo à geração da utopia, mas, quando Angola comemora 35 anos de independência, entende que “a utopia acabou” para dar lugar ao “capitalismo global”.
 
Em entrevista à Agência Lusa, o ex-primeiro ministro, de 1975 a 1978, e antigo secretário geral do MPLA, assume que “o tempo das utopias acabou”.
 
Em tom que deixa perceber alguma nostalgia, afirma-se “dessa geração da utopia, como diz (o escritor) Pepetela”, mas sabe que “esse tempo acabou” e que “hoje é o tempo do capitalismo global”.
 
Quando o país se prepara para comemorar os 35 anos da Dipanda (independência, em kimbundo), na quinta-feira, Lopo do Nascimento aponta as duas debilidades que reconhece na Angola de hoje e que o inquietam: a falta de quadros e uma economia “sobreaquecida” que pode, sem controlo apertado, gerar graves discrepâncias sociais.
 
“Temos debilidades em Angola, que alguns defendem serem oportunidades. Uma é a falta de quadros. A guerra terminou recentemente, e os 27 anos de conflito levaram a que as elites, os grandes quadros, estivessem nas forças armadas, porque havia guerra… embora hoje já se olhe para a parte civil, para a necessidade de formar pessoas”, aponta o atual deputado do MPLA.
 
A outra debilidade é, sublinha, “uma economia que está demasiado aquecida” para a capacidade existente de acompanhar essa realidade, embora, “exista que quem diga que isso é muito bom”.
 
“Eu acho que é uma debilidade que nos pode levar a perder um pouco o controlo das coisas. É bom evoluir, evoluímos bastante desde 2002, mas este ritmo de crescimento pode levar a discrepâncias sociais preocupantes, como é a questão da pobreza, o fosso social. Não se acaba com a pobreza de um dia para o outro, nem é com a caridade, acaba-se com a pobreza criando empregos…”, alerta.
 
Lançando um olhar retrospetivo sobre Angola, Lopo do Nascimento vê a sociedade angolana em profunda metamorfose e onde “as coisas mudaram muito”, com “uma nova geração que não está muito marcada pelas divisões” germinadas com a guerra e com as batalhas ideológicas.
 
“É uma sociedade mais aberta, apesar de ainda existir esse sentimento, um pouco, nos partidos, mas a maior parte das pessoas não está amarrada a esses cânones partidários”, nota.
 
Há, segundo Lopo do Nascimento, “uma nova atitude na juventude, mesmo que não seja assim nas gerações mais antigas”. “Eu, pessoalmente, não me sinto amarrado a esses redutos, tenho amigos na UNITA e na FNLA e quando tenho de os criticar critico, quando me criticam, é assim…”.
 
Lusa
 

 

Comentario

franqueza

Qualquer | 13-11-2010

Meus agradecimentos a este tão destacado homem angolano. Quanta moderação e maturidade.
Fique descansado não faltará apreciador dos teus passos.
Pena mesmo é esta confusão actual entre familia e país.

Assim é que é

Realista | 12-11-2010

Lopo Se todos do seu partido pensassem como voce talves
Angola estaria melhor!

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